É BOM PORQUE
Há uns meses li um artigo que falava sobre alguns livros que eram clássicos femininos esquecidos e este era um deles, lembrei-me que o tinha em casa, mas nunca o tinha lido. O que aconteceu foi que me deixou em transe e estava desejosa de ter um mês disponível para o repescar e poder falar sobre ele. A premissa é surpreendente: uma mulher vai passar uns dias com uns amigos à casa deles nos Alpes e de manhã acorda e percebe que há uma grande parede de vidro à volta dela. Aparentemente, tudo para lá da parede desapareceu e ela é a última sobrevivente na terra. Tem apenas por companhia o cão da casa, uma vaca e um gato que aparece e este livro é o diário que vai escrevendo à medida que os dias vão passando e ela se debate com temas como solidão, sobrevivência, os laços entre os humanos e os animais, natureza, medo, morte, isolamento... é um livro lento (mas com muitos momentos de tensão), claustrofóbico, que nos faz sentir precisamente o que ela está a viver e as suas jornadas pelas montanhas para tentar encontrar comida, outras pessoas, outros animais. Sei que não é para toda a gente (é uma narração toda seguida, não tem capítulos, o que a torna ainda mais vívida e aumenta a tensão e o desespero), mas queria mesmo trazer para o Book Gang porque é uma inteligente e original reflexão sobre a resiliência humana. Marlen Haushofer foi uma autora austríaca, mais conhecida por este livro publicado em 1963 e que só após a sua morte em 1970 se viria a tornar um clássico feminista e distópico de culto, traduzido para dezenas de línguas. Que leitura arrebatadora.
A Parede de Marlen Haushofer
PONTOS A FAVOR
🗣️ Incentivo ao diálogo: preconceito, saúde mental, julgamento, vida em comunidade
🧚🏼♀️ Lendas de fadas numa pequena aldeia
🎙️ Todo narrado em testemunhos
🇫🇷 Autora francesa
SINOPSE
Uma história de sobrevivência. O diário da última mulher na Terra.
De férias numa casa de campo nos Alpes austríacos, uma mulher depara com uma barreira invisível que a isola do mundo e a leva a crer que é a única sobrevivente de uma catástrofe.
Tendo apenas por companhia os animais e as imponentes montanhas, e à medida que se adapta a um novo modo de vida, desenvolve uma profunda ligação com a natureza, encontrando um propósito: resistir entre a ameaça da loucura e a dureza das tarefas diárias, à mercê dos elementos, e zelar pelo que resta.
A Parede (1963) foi adaptada ao cinema por Julien Pölsler em 2012.Críticas
Uma das obras mais profundamente feministas do século passado.
— Naomi HuffmanUm livro sobre o que nos mantém vivos, a auto-suficiência e a solidão.
— Sheila HetiUm romance distópico que a pouco e pouco se torna uma utopia.
— James WoodCom este livro, Haushofer inaugura um museu imaginário onde podemos visitar, em dia e hora marcados, a fraternidade e a igualdade, a criatura em todas as suas manifestações, as árvores e os animais.
— Klaus Antes