É BOM PORQUE
Gostei muito desta autobiografia e deixou-me presa nas reflexões da autora até ao final onde ela nos apresenta um relato sincero e pessoal das suas próprias experiências ao viver com sociopatia, proporcionando uma visão rara da mente de alguém que luta contra uma condição frequentemente envolta em estigma e incompreensão. Enquanto leitora leiga neste tema, o termo sociopata cria algum desconforto, é certo, e li uma crítica de um especialista que dizia que o transtorno de personalidade anti-social anda de mãos dadas com o transtorno de personalidade limítrofe e o narcisista, e que há muitos espectros e características de cada um deles e podem ser manifestados numa única personalidade, que talvez seja o caso da autora que também aborda a alexitimia (não sentir emoções) e a não compreensão das regras sociais, particularmente comuns no autismo. No entanto, nada disto tira poder ao livro porque apesar das polémicas que se geraram em torno da veracidade do que a autora alega, continua a ser uma leitura fascinante, crua e franca sobre os desafios e as complexidades de lidar com coisas tão banais para os outros como as relações, as normas sociais e a própria moralidade, que ela cresceu a não ter, relatando-nos episódios da infância com uma vulnerabilidade que nos toca. É também um testemunho profundamente corajoso e importante, cria empatia relativamente à saúde mental e oferece esperança para que estes temas sejam melhor compreendidos na nossa sociedade. Adorei e vou recomendar muito.
Sociopata de Patric Gagne
PONTOS A FAVOR
🗣️ Incentivo ao diálogo: saúde mental!!!
📚 Reflexões e memórias da autora desde a infância
⏳ Saltos temporais
🤩 Leitura fascinante
SINOPSE
Os vossos amigos provavelmente descrever-me-iam como simpática.
Mas sabem que mais? Não suporto os vossos amigos. Sou mentirosa. Roubo. Sou altamente manipuladora. Não quero saber do que as outras pessoas pensam. Aliás, não quero saber, em geral. Sou capaz de quase tudo.
Patric era ainda muito pequena quando começou a ver que todos pareciam desconfortáveis na sua presença. Havia alguma coisa que não estava bem, ela não percebia o quê, mas começou a desconfiar que a razão fosse apenas uma: ela não sentia as coisas como as outras crianças. Medo, culpa ou empatia? Não sabia o que eram. Aliás, dizer que Patric não sabia é pouco. Em geral, Patric não sentia absolutamente nada. E não sentir nada começou simplesmente a tornar-se insuportável. E então, começou a fingir.
Porém, a pressão para ser igual aos outros, para encaixar numa sociedade que não a aceitava como ela realmente era tornou-se cada vez maior. E então, começou a roubar. A ser violenta. A mentir. A ferir. Tudo valia para tentar sentir qualquer coisa. E então, na faculdade, numa aula de Psicologia, as suspeitas confirmaram-se: Patric era uma sociopata. Mas o que é, de facto, a sociopatia, além de um diagnóstico que a rotulou como um monstro intratável, incapaz de alguma vez vir a ter uma vida normal?
Na era em que o true crime, os assassinos em série, a sociopatia e a psicopatia são alvos da curiosidade de milhões de pessoas, estas memórias, de uma honestidade desarmante, mostram-nos como é possível reescrever a nossa história, mesmo quando parece que todos e tudo está contra nós. E então, ter esperança. Viver. Sentir que se pode começar outra vez.















