É BOM PORQUE
Este é um daqueles livros que me passou ao lado quando foi publicado porque infelizmente há meses em que muita coisa boa fica de fora e que eu não chego a ler. Quando vi agora que venceu o Women's Prize for Fiction peguei nele por curiosidade e foi uma leitura absolutamente visceral, intensa, poderosa, impactante, emocionante, que já se tornou um dos meus favoritos do ano e tive de repescar para o Book Gang. Temos uma casa no campo; temos três irmãos que para lá foram viver em crianças quando a família fugiu de Amsterdão durante a II Guerra; temos Louis que vive na cidade e salta de namorada em namorada; temos Hendrik que saiu da casa quando era adolescente porque a mãe não aceitou a sua homossexualidade; e temos Isabel que, quinze anos depois, vive sozinha naquela grande casa, solitária, meticulosa, paranóica e em profunda devoção com o legado da família. No verão de 1961, o irmão Louis vai trabalhar para fora e deixa a sua namorada do momento na casa de campo com Isabel, para seu horror e desgosto, mas a convivência das duas torna-se violenta e possessiva. É também um livro sobre desejo e intimidade e aviso já que tem conteúdo sexual. A autora construiu estas personagens danificadas pelo impacto da Guerra e foi a primeira vez que li sobre este outro lado da História (depois vão compreender) e foi com grande surpresa que li o grande plot twist final que emocionou profundamente. É uma leitura arrebatadora, comovente e tive de fechar a boca várias vezes porque estava embevecida. Leiam, leiam, leiam!
A Guardiã de Yael Van Der Wouden
PONTOS A FAVOR
🗣️ Incentivo ao diálogo: relações familiares, dor, trauma, luto, desejo, intimidade
🥹 O outro lado da II Guerra Mundial
📝 Tem cenas sexuais arrebatadoras
🏆 Vencedor do Women's Prize for Fiction 2024
SINOPSE
Países Baixos, 1961.
A Segunda Guerra Mundial acabou há mais de 15 anos, o país reergueu-se penosamente das cinzas, já quase não restam vestígios do passado. Quase.
No campo, nos arredores de Utreque, Isabel leva uma vida solitária.
A mãe deixou-lhe uma casa enorme que ela mantém assepticamente ordenada, como um museu. Apenas permite a entrada da criada ou dos dois irmãos, quando raramente a visitam. É neste palco que surge uma intrusa, como um furacão. Um dos irmãos de Isabel vai lá passar uns dias. Chega na companhia da sua mais recente namorada, Eva. Parte pouco depois, deixando-a para trás.
Agora, naquele espaço fechado, num verão que queima, estão Eva e Isabel. Uma é livre, selvagem; a outra tenta a custo resguardar-se, defender o seu castelo, os pratos no louceiro que a mãe lhe deixou, o faqueiro precioso, as relíquias que começam a desaparecer. Uma após outra.
Podíamos falar aqui de Expiação, de Ian McEwan, porque há crimes por expiar e um desfecho que tudo contradiz; ou evocar Patricia Highsmith, na misantropia de Isabel, no suspense que asfixia; ou ainda lembrar o Leitor, de Bernard Schlink, porque a guerra (e a História) reescrevem o destino.
A Guardiã, de Yael van der Wouden é uma das mais aclamadas estreias literárias da década. Numa escrita seca, áspera, avassaladoramente sensual, a autora transporta-nos para aquela casa, prende-nos lá dentro, deita fora a chave. E quando conseguirmos de lá sair, muito depois de terminarmos o livro, ainda lá continuaremos, perplexos, enfeitiçados, apaixonados.CRÍTICAS
Uma história envolvente e atmosférica de obsessão e segredos. Um romance que explora as coisas que nos são escondidas em criança e as coisas que dizemos a nós próprios sobre os nossos desejos ocultos.
— Juri do Booker PrizeUma estreia corajosa e emocionante sobre como enfrentar a verdade da história e os nossos próprios desejos. . . . A narrativa rigorosamente controlada abre-se para um conto de despertar erótico, seguido de uma reviravolta poderosa. Antecipar essa reviravolta não diminuirá o seu impacto — o que é bastante apropriado para um romance em que todos sabem mais do que conseguem admitir. Um livro impressionante sobre trauma e repressão.
— The Guardian